Em Dia de Finados relembro aqui o triste caso do homem que morreu electrocutado há poucos dias na Lisnave, em Setúbal. O trabalhador estava a receber tubos na doca quando precisou de afastar um cabo. Essa acção seria a última que faria em vida, pois sofreu uma descarga fatal.O acidente em si poderia passar como apenas um acidente. Mas as acusações dos sindicatos são graves. Demasiado graves para que nos deixemos anestesiar pela indiferença habitual do "mais-uma-morte".
Diz, em comunicado, o sindicato dos metalúrgicos:
Os trabalhadores com contrato precário são as principais vítimas dos acidentes de trabalho, principalmente por causa da sua insegurança na relação contratual. Recebendo à hora, sem a aplicação dos direitos legais e contratuais, sem o fornecimento de todos os meios de protecção individual e sem a necessária formação sobre segurança, sujeitam-se a todo o tipo de trabalho, com justificado receio de serem despedidos na hora. Os trabalhadores com contrato permanente podem mais livremente alegar falta de segurança individual ou colectiva e exigir a criação de condições para trabalhar. Mas com contrato precário a sujeição ao risco é quase total, resultando daí muitos acidentes.
Resumo: quem for precário e exigir segurança, atrasando os trabalhos, pode ser dispensado num abrir e fechar de olhos.
Que as empresas contratem a recibos verdes por duvidosas dificuldades financeiras ainda se engole. A custo, mas engole-se. Mas quando se chega ao ponto de a empresa não conseguir garantir a segurança básica dos trabalhadores, quer sejam "seus" ou "alheios", algo vai mal. As notícias acabaram com o habitual "causas do acidente estão por apurar, mas foi aberto um inquérito". O verdadeiro mas deveria ser para o facto de a Lisnave nada dizer, de calar a desgraça.

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