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segunda-feira, 27 de junho de 2011

Amanhacendo em Setúbal

"O Sol da manhã não dura todo o dia""O Sol quando nasce, é para todos"

Avenida Bento de Jesus Caraça, Setúbal, 2011.
Foto: Ricardo Vilhena

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A Arena do Convento é Nice e o Jorge também

Dia 19 de Junho, 22h: o largo do Convento de Jesus (Praça Miguel Bombarda) está a abarrotar de gente. Quatro mil, cinco mil pessoas? Talvez mais. O panorama faz-me lembrar os tempos em que a Feira de Sant'Iago se realizava lá em baixo e uma menina do Montijo chamada Dulce Pontes encantava a multidão. Desta a feita a festa era outra, a da freguesia São Julião, mas aberta a toda a cidade. E o artista? Jorge Nice (foto de Rui Luna)! O artista nem precisou de cantar muito. Os setubalenses, setuvaleiros e visigodos já têm as letras na ponta da língua. A arena tem sido criticada desde os tempos em que foi construída, reinava Mata Cáceres no poder autárquico. Mas entre esta e a do Agrafo Gigante (auditório Zeca Afonso), prefiro a primeira, embora com uma reserva: o som das colunas não afectará a estrura do Convento de Jesus? Certo é que o bom setubalense não dispensa uma boa festa de Verão. É caso para dizer: Aua!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

McDonald's oculta painel de azulejos de Pedro Jorge Pinto (1900-1983)

Registo com grande preocupação que o restaurante McDonald's Setúbal Centro ocultou o grande painel de azulejo com a Região dos Três castelos, da autoria do pintor setubalense Rogério Chora de PEDRO JORGE PINTO (1900-1983)***, que lá estava desde os tempos em que o espaço era antigo e centenário café "Esperança". A ocultação deu-se depois das recentes obras que modificaram o mobiliário do restaurante e tranformaram o espaço exterior numa esplanada coberta mais ampla. Em 1998, quando se soube da instalação do McDonald's naquele espaço, Rogério Severino, ilustre jornalista, falecido em 2003, alertava no Setúbal na Rede:

Esperamos que tal pintura, ela também um orgulho dos setubalenses, se mantenha já que não aceitamos que ela seja retirada e se bem que não se encontre classificada ela representa já um património que Setúbal considera como seu. Consideramos que a pintura não incomoda o interior do espaço, pelo contrário, enriquece-o e a cidade certamente não aceitará a sua retirada. (conferir aqui)

Retirar aos setubalenses e aos visitantes da nossa cidade o direito de contemplar esta obra de arte é imcompreensível e um atentado à memória cultural e artística da cidade. Reparei também que as colunas ornamentadas a azulejos, características do espaço foram igualmente ocultadas. Por considerar urgente a reposição do painel deixo aqui este alerta.

***Publiquei este post originalmente em 15/06/2011
Entretanto, surgiu no grupo do Facebook "Setúbal quase Esquecida" um comentário, de Diamantino Vasconcelos, que por achar ter pertinência reproduzo agora. Não sei qual é a fonte do Diamantino Vasconcelos. A minha fonte não era a mais fidedigna. Por isso, procurei no fundo local da biblioteca municipal, mas nada encontrei sobre os ditos painéis. Até nova versão aqui fica:

Diamantino Vasconcelos: Não é importante para a discussão, mas de facto o autor dos painéis do ex-Café Esperança foi PEDRO JORGE PINTO (1900-1983), o mesmo dos painéis do mercado (parede sul, zona do peixe). A grande diferença cromática e conceptual deve-se, claro, à distância de 3 décadas na consecução de uns e outros. Foi o regresso à cidade nos anos 60, do azulejista que já havia tratado temas setubalenses no início da década de 30. Na coleção da Câmara está, por exemplo, uma belíssima aguarela que retrata o chafariz ainda implantado frente à Câmara. Portanto, o seu a seu dono - tanto P.J.P como LUCIANO dos SANTOS trabalharam na decoração em azulejo tanto do ex-café como do Hotel. Aliás, como Manuel Tavares (1911-1974) que terá fornecido tantas aguarelas originais, quantos os quartos do Hotel. Aparentemente tb ninguém sabe o rastro delas. Na remodelação, "desapareceram" ... 


NOTA: Mais alguns apontamentos --> Tive oportunidade, no último Verão, de visitar dois outros McDonald's onde tudo (ou quase) está intacto. Trata-se do antigo Café Imperial, Av. Aliados, Porto (ver, a propósito deste café, o brilhante apontamento de Maria Teresa Castro Costa em http://www.apha.pt/boletim/boletim2/pdf/CafesDoPorto.pdf ), e do McDonald's na Praça da República, em Coimbra, antigo café Mandarim, onde pude constatar que está em muito bom estado de conservação o painel de azulejos de Vasco Berardo, datado de 1960. O café do Porto optou pelo mesmo estilo de nova decoração com aquelas placas decorativas acastanhadas, mas sem tapar nada de relevante. O mesmo estilo é usado no McDonald's do Saldanha, mas curiosamente não é usado no do Jumbo de Setúbal. Lamentável que a remodelação, no Esperança, não tinha tido em conta que havia e há outras alternativas.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Só para nerds: método de Hondt e distribuição de mandatos em Setúbal

Os mandatos estão a negrito.

Em 2011

PS PPD/PSD CDU CDS BE
1 114358 105965 82816 50660 29620
2 57179 52983 41408 25330 14810
3 38119 35322 27605 16887 9873
4 28590 26491 20704 12665 7405
5 22872 21193 16563 10132 5924
6 19060 17661 13803 8443 4937
Dados: http://www.legislativas2011.mj.pt

Em 2009:

PS CDU PSD BE CDS
1 142626 84203 68740 58827 38378
2 71313 42102 34370 29414 19189
3 47542 28068 22913 19609 12793
4 35657 21051 17185 14707 9595
5 28525 16841 13748 11765 7676
6 23771 14034 11457 9805 6396
7 20375 12029 9820 8404 5483
Dados: http://www.legislativas2011.mj.pt

Mais info acerca do método de Hondt, o método usado no sistema eleitoral português para converter votos em lugares no Parlamento: http://www.cne.pt/index.cfm?sec=0501010100

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Elogios rasgados

A qualidade é coisa rara. Andamos tão desabituados de a ver que ficamos sem saber muito bem o que dizer quando a vemos. Foi o que me aconteceu quando tentei dizer ao José Lobo o que tinha achado do seu texto "Silêncios Rasgados". Eu sabia que o mundo interior dele era complexo e duro, mas ainda não tinha visto a prova. O texto do José Lobo serve de base à peça que a equipa do Teatro Estúdio Fontenova tem em cena por estes dias (de 13 de Maio a 5 de Junho (Quinta a Sábado) às 22h e Domingos às 17h) numa moradia desabitada (de finais do século XIX) do Bairro Salgado, mais precisamente na Rua Garcia Perez Nº 36. O tema, a violência doméstica, é retratado de forma cruel, quase grotesca, com todo o desconforto a que temos direito (e que somos convidados a não ignorar), que isto não é coisa para ser fácil de ver. Tudo é cru. Em cena fala-se do homem, do agressor, mas este nunca aparece senão de forma figurada. Fala-se de um homem que é ensaista. Ensaista de porrada. Ensaia tanto que a mulher torna-se múltipla, fala de si como se falasse de outra pessoa e ora abandona a casa ora volta por pena do marido (para desespero do público). A doença, a repulsa, o nojo, a náusea que a mulher-mãe-vítima sente e transporta, contamina a retina do espectador. Este é transportado de quadro vivo em quadro vivo, como se em cada assoalhada da casa vivessem ainda mulheres que não têm direito a ser felizes nem a ser mulheres. Percebi agora o óbvio: este texto funciona porque não é para ser lido. É, como está sendo, para ser interpretado em teatro. As histórias que ouvimos aqui são baseadas em vivências contadas por vitimas reais, fruto de entrevistas que o autor conduziu. O resultado dessas conversas foi esta peça, como podia ter sido um documentário ou uma reportagem. O resultado foi arte. Daquela arte que serve para reflectir e dar esperança. Arte que deve fazer sempre parte da nossa setubalidade. Deixo-vos com um pensamento da Inês Pedrosa, escrito noutro contexto, diferente do desta peça: "A violência é viciante, e não só para os que a exercem. Vicia também os que a sofrem, facilmente se torna uma forma de prazer, porque se confunde com a experiência do abismo, da vertigem, da entrega absoluta - e tanto mais quanto mais precoce for a iniciação."